Era quarta-feira e o dia amanheceu com o sol tímido típico de Novembro. A manhã estava fria e eu tinha dormido pouco. A ansiedade que tomava conta de mim instalara-se há já uma semana e levantei-me cedo.
Demorei-me na contemplação daquele quarto e acariciei os móveis e acessórios cuidadosamente adquiridos nos últimos meses.
Dediquei-me aos rituais de higiene matinal e verifiquei, pela milésima vez, a mala que nos dois últimos meses fazia e refazia, e enchia de amor e de medos. Saímos.
Apresentei-me às nove horas da manhã e logo depois chegou a minha mãe, ainda mais ansiosa que eu.
Fui vista, revista, respondi a todas as perguntas e fiz poucas. Julgava já saber o que havia a saber, que dos pormenores se encarrega o destino e, que a ignorância é muitas vezes confortável.
Surpreendeu-me que aparecesse uma amiga. Acompanhara-me com mais frequência nos últimos meses e, viria a tornar-se na amiga mais presente neste caminho que percorremos e a que chamamos vida. Passeou e conversou comigo, e quando tive fome fomos comer uma bola de berlim.
As horas demoravam a passar, os medos aumentavam. Rendi-me. Despedi-me da minha amiga e disse até já aos outros. Entrei.
Despiram-me, deitaram-me, mexeram-me mais um bocado e deixaram-me só, com as dores e a agonia. De tempos a tempos vinha alguém ver como evoluía, até que finalmente me espetaram a agulha e a existência se tornou suportável.
Passaram mais horas e chegou o momento:
- Força! Agora! Força!!!
Obedeci como podia, mas eras demasiado grande. Senti o frio do metal dos instrumentos e, de repente, um alívio delirante. Senti o teu calor a pousar-me no ventre. Eras lilás. Assustei-me, ninguém me tinha avisado! Mas disseram que estava tudo bem, puseram-te uma pulseira cor de rosa e levaram-te para te limpar.
Eram 18:50h, há quinze anos atrás. Tinhas quatro quilos e cinquenta e dois centímetros.
Trouxeram-te de volta e aninharam-te nos meus braços. Contemplei-te embevecida e com todo o amor que emanava do meu ser disse-te baixinho:
- Olá mundo!
Há 11 anos